“Deus criou o homem e a água, mas o homem criou o vinho, e o homem do douro, aturado e atento, criou o vinho do porto”
Alfredo Saramago in o vinho do porto na cozinha, história e gastronomia, Collares Editora.
A trabalhar em Clubes de Vinho há mais de 35 anos e português de nascimento, valem-me estas referências algumas perguntas recorrentes ao longo da minha vida, uma delas é como servir um vinho do porto – sempre que a oiço um sorriso aflora-me aos lábios, respiro fundo e tento abordar este tema com a seriedade que merece, explico porquê.
Compreendo o interesse, que comungo, das pessoas pelo tema vinho do porto e anos atrás encontrava a resposta assente na riquíssima história deste vinho, desta região, deste país. Hoje, porém, tento abordar a questão duma forma mais simplista, igualmente séria e interessada, baseada no esclarecimento do facto de que vinho do porto sendo tudo, não é nada. Chocado? Estupendo, explico.
Começo com uma curiosidade pois vinho apesar de se chamar do porto nada, ou quase, tem a ver com esta cidade aparte de ser exportado através da sua barra, o que lhe valeu o seu nome de baptismo. Na verdade a sua zona de produção deste vinho sempre foi o douro, uma região distante, montanhosa e agreste, obrigatoriamente armazenado em vila nova de gaia para onde era transportado de barco e daí exportado para o mundo, repito, através da barra do porto.
Entender bem o vinho do porto exige alguma reflexão e curiosidade pelo que peço me acompanhe no desbravar desta riquíssima região de 250.000 ha, o douro, onde, na verdade, foram, são e serão produzidos os vinhos do porto. Plural, mas afinal não há só uma categoria de vinhos do porto? Não, não há, basta pensar que nesta região se produzem uvas brancas e uvas tintas, o que logo na origem condiciona o tipo de vinho do porto, entre naturalmente, o branco e tinto.
A partir deste marco, debrucemo-nos então sobre os destinos que os vinhos do porto tintos podem ter, e que condicionam a sua vida e, com ela, a sua classificação nas categorias existentes.
Terminada a fermentação das uvas amuada com aguardente, os vinhos do porto tintos têm dois destinos possíveis, cubas de inox, ou pipas que nesta região têm a capacidade de 550 litros.
Sigamos os primeiros que no final da fermentação recebem o nome de Ruby, muito possivelmente devido às suas cores, e que se caracterizam por aromas a fruta jovens, pujantes com notória presença do álcool, uma vez que, como todos os vinhos do porto, estes vinhos do porto tintos, podem oscilar entre 16º e 20 º de teor alcoólico.
Apreciar estes vinhos do porto tintos é muito fácil, frescos (14º/15º) são um excelente aperitivo, e numa refeição sirva-o, por exemplo, numa meloa fresca, cortada ao meio, verta uma generosa dose deste vinho do porto tinto, rubi, e delicie-se com o seu “melon au porto”. A título de curiosidade nos finais da i grande guerra mundial em Inglaterra faziam um cocktail com os vinhos do porto tinto, rubi, adicionando-lhe sumo de limão, umas pedras de gelo a que juntavam uma dose variável de gasosa.
Continuando o percurso dos vinhos do porto tintos, outros há que pela sua estrutura não convém serem consumidos de imediato pois, de tão potentes serem, são imbebíveis na sua primeira juventude, mandando o bom senso que se espere por eles. Legislou-se sobre o assunto de acordo com a tradição e bom senso, surgem assim mais duas categorias de Vinhos do Porto Tintos, que com certeza bem conhece, os Late Bottled Vintage, e os Vintage.