• O que aprendo num Curso de Vinhos além da prova?

    Uma boa questão de gente interessada e cautelosa, merece uma resposta de idêntico teor que se poderia resumir em a prova de vinhos ser um fim, mas até lá chegar é necessário saber algo de vinhos e de prova – sistematizar – para depois saber avaliar. Afinal é isto que a prova faz.

    Escrevia Eça de Queiroz, e cito de memória, “para ensinar é necessário cumprir com uma condição: saber!” Citação um pouco lateral talvez, mas antes de abordar a prova é necessário saber, pelo menos, duas coisas a primeira como funciona o nosso sistema de prova – os sentidos – para procurarmos o quê, onde, e o segundo, o saber como o vinho é feito, matéria que todos supomos conhecer, mas quando abordada surgem não poucas surpresas…

    Os nossos sentidos são afinal o juiz de todos os nossos alimentos, vinho incluído, e se a visão e o olfacto não oferecem cuidados de maior, já o paladar – o juiz final – tem mais que se lhe diga por detectar o doce, o amargo, o ácido e o salgado, e sabermos onde devemos esperar este encontro facilita em muito a tarefa do provador na sua avaliação. Devemos aqui acrescentar uma outra função que descreveríamos como a duração da impressão, dito por outras palavras quanto tempo percepcionamos o sabor do alimento, vinho neste caso.

    Já devia ter dito, desculpe só agora o fazer, que avaliar vinhos é um exercício de memória e de sistematização, ganhar assim as bases para o fazer parece-me que não necessita de maior demonstração de grande valia.

    No que toca ao vinho propriamente dito é básico para não dizer obrigatório saber como se faz. A título de exemplo, pergunto: sabe quais as diferenças na criação dum vinho branco e dum tinto? E sabe como se faz um espumante? O que é um espumante bruto?

    Se conhece as respostas a estas parcas questões é provável que esteja melhor preparado do que a maioria para fazer o seu curso de iniciação à prova, a verdade é que também não trará prejuízo recordar estes conceitos.

    Resumindo, sem saber um mínimo de vinhos e do funcionamento dos nossos sentidos, será muito mais difícil abordar o curso e a prova do que quer que seja, e a dos vinhos em especial.

    Assim, num curso de iniciação à prova de vinhos deverão ser abordados os seguintes temas:

    • História do vinho: desde os primórdios até aos dias de hoje.
    • Os sentidos e os vinhos: o olhar, o olfacto e paladar. Os sentidos falam, interprete as suas mensagens.
    • Gostos e aromas elementares como ponto de partida crítico para a avaliação. As suas implicações nos vinhos e gastronomia, como base para as harmonias à mesa.
    • Tipos de vinhos.
    • Vinificação dos vários tipos de vinho.
    • Prova de vinhos: tintos, brancos e espumantes.
    • A cave como fonte de prazer e de investimento.
  • Porque é que o vinho é selado com uma rolha de cortiça?

    Um vinho é um produto natural que pede e merece ser vedado na garrafa com um produto natural.

    Os antigos tinham de se governar com os meios ao seu dispor para responder às suas necessidades, por isso usavam recipientes de madeira para guardar os vinhos que hoje conhecemos por balseiros, barricas, quartolas, etc., e socorreram-se das propriedades da cortiça para selar os recipientes de vinho, ânforas certamente nos primórdios. Afinal que propriedades tem a cortiça para merecer semelhante distinção?

    Começa pelo facto de existir cortiça por toda a bacia mediterrânica, também zona de produção de vinho logo bastou somar um mais um. Acresce que a cortiça é um bom vedante ou seja incha em contacto com os líquidos garantindo a estanquicidade do receptáculo. E mais importante de tudo não transmite qualquer sabor aos líquidos dos quais é encarregada de vedar.

    Por tudo isto a cortiça sobreviveu até aos nossos dias como o vedante de excelência para vinhos de qualidade, estando nós de tal modo habituados a este facto que se um vinho nos aparece com qualquer outro vedante imediatamente baixamos as nossas expectativas em relação ao vinho em apreço.

    Aproveito para lhe contar uma curiosidade vinda da antiguidade, do império romano, mais precisamente, o transporte dos vinhos que sempre foi assunto de grande importância, uma vez que quando há trocas comerciais entre destinos longínquos é fundamental que não só o recipiente seja seguro – não se quebre – como seja estanque, garantindo não haver perdas dos líquidos transportados.

    Assim os romanos que exportavam vinhos para a Grécia não só selavam as ânforas com cortiça como ainda as selavam com resina. Claro está que não raras vezes com o calor ou alguma deficiência a resina entrava em contacto com o vinho e transmitia-lhe o seu sabor, tendo com o passar do tempo os gregos começado a apreciar este sabor, ao ponto de ainda hoje consumirem vinhos com gosto a resina.

    E esta hein?

  • Como preparar uma tábua de Queijos e Enchidos?

    Sempre que estou no supermercado é um autêntico desastre, compro e volto a comprar o que me apetece e não o que necessito, isto por mais listas e listas, sempre acompanhadas de boas intenções, que leve, despisto-me sempre. A derrapagem aquisitiva é sempre igual, enchidos e queijos, e é dela que me proponho falar agora, aqui, consigo.

    Sim, vivia de pão com queijo ou de pão com enchidos, dito isto assumo que prefiro os enchidos alentejanos por uma dupla razão: serem feitos a partir de carne de porco preto, e o seu tempero ser o que mais aprecio, isto nas suas mais variadas formas e apresentações desde linguiça, a paios vários: e paio do lombo passando pelo delicioso paio do cachaço.

    Sim, já fui feliz nos supermercados mas hoje não sou – sabe deus o quanto me custa – pois todos os meus despistes resultaram em danos visíveis, porquê, perguntará, pela simples razão que todos os enchidos são demasiado industriais, (neste ramo sou a favor de automatismos, industrialização, não) logo desinteressantes. Fica a nota e prometo que mais adiante revelarei o meu segredo.

    Diferente abordagem já tenho quanto aos queijos – ainda não consegui não gostar de um queijo – pois o sortido é mais abrangente e, confesso, guloso, mesmo assim pus a pata na poça variadíssimas vezes… refugio-me nos queijos franceses – os azuis mais fortes – e os clássicos mais mimosos (brie, camembert, saint marcelin), nos italianos como parmeggianno à cabeça seguido dum pecorino, alternados de tempos a tempos com uma burrata, e nos espanhóis com os manchegos à cabeça, e um ou outro diferentes disponíveis no momento da compra.

    No capítulo nacional lá vou eu a correr para os braços dos Serra, Azeitão e Serpa, embora poucas sejam as marcas que me satisfaçam, alternados com um ou outro queijo da ilha e aqui e ali casados por um queijo de cabra.

    A minha tábua de queijos tem um defeito que imagino todas tenham: é sempre pequena. Imagino que se fosse maior continuaria com o mesmo defeito… enfim sempre que utilizo começo sempre mas sempre pelos queijos nacionais e só depois completo o ramalhete seguindo os apetites do momentos ou talvez melhor dito, os apetites possíveis… embora tenha como regra que os nossos queijos e os franceses são obrigatórios, e alterno entre os italianos e os espanhóis para dar um gostinho mais europeu.

    Já nos enchidos sou mais exigente pelo que a variedade reduz entre os vários tipos de enchidos de porco preto alentejano, que apresento sempre previamente cortados as rodes para que os convidados se sirvam facilmente.

    Uma nota quer os queijos nacionais, quer os enchidos compro-os no clube vinhos e sabores pelo simples facto de não encontrar no mercado qualidade comparável, mas isto, meus senhores, sou eu que além de ter gostos “caros” tento nunca os desiludir…

  • Pequenos ou Grandes Produtores?

    Deve preferir-se os vinhos de pequenos produtores?

    Grande pergunta esta, com que me tenho deparado ao longo da minha vida, e cuja resposta tem variado de tempo a tempo, consoante as minhas mais diversas experiências ao longo dos já 35 anos que levo neste mundo vinícola.

    O princípio

    O princípio é sempre marcado por alguma ingenuidade na exacta medida da ânsia que temos de aprender e de perceber das coisas, de vinhos, neste caso. Claro que os nossos primeiros passos são sempre guiados por terceiros que consideramos, e cujas opiniões tomamos para nós, como nossas. Mas estarão correctas?

    A evolução neste mundo dos vinhos em demanda de respostas é bem lenta, pois a nossa segurança e conhecimentos são continuamente postos à prova cada vez que nos colocamos uma questão, e, por vezes, quando pensamos que estamos à beira duma certeza lá vem aquele vinho que deita tudo por terra.

    O caminho requer além de persistência, sensibilidade e discernimento. Sem estes três elementos associados a meta fica sempre mais longe e mais árdua… sim, o caminho passa pela prova de vinhos e por ganhar segurança nesse âmbito.

    Prove, prove muito, prove mais, aperceba-se das diferenças dos vinhos, das suas similitudes, dos seus perfis, e ganhe segurança, conhecimento. Quando perceber, acompanhar, as conversas que ouve está no bom caminho, ah, e não se esqueça de as expurgar das paixões, preferências, de uns e de outros que bons vinhos há por todo o lado, tal como os maus…

    A notícia que tenho para lhe dar não é boa, é excelente, pois nunca se chega, o caminho é contínuo e tão recompensador quanto desafiante, pois nesta coisa dos vinhos há sempre, mas sempre, qualquer coisa a descobrir. Pode-se sempre ir mais longe e recolher daí as recompensas.

    Os produtores

    Claro, eu percebo, o “small is beautiful” é só por si um grande atractivo e suponho com boa lógica até, que os pequenos produtores cuidam melhor dos seus vinhos, e que por isso, serão superiores. Pensando melhor, será que os pequenos produtores têm as melhores condições para fazer vinhos, e nas suas propriedades têm espaço para as melhores castas, e acesso à informação e aos melhores técnicos, muitas perguntas para responder…

    E os grandes produtores, produção em larga escala, compra de uvas, grandes adegas, será que os seus vinhos refletem alguma valia especial? Ou pelo contrário contentam-se com uma mediania aceitável e repetível a um preço digamos que aceitável…

    A resposta

    A resposta não está na dimensão mas sim em cada produtor, senão vejamos, se um produtor não for conhecedor, atento e informado alguma vez vai conseguir fazer um vinho de jeito? Muito dificilmente!

    Indo por aqui, diria que sim um bom produtor tende a ter sempre melhores vinhos, os pequenos têm uma enorme vantagem sobre os grandes, é que são mais ligados aos seus produtos, têm o gosto e o cuidado de os apresentar melhores pois sabem que eles são o seu cartão-de-visita. Já os grandes produtores ao não serem tão próximos dos seus vinhos tendem a fazer o possível dentro do nível em que situam.

    Conclusão:

    Vinhos sempre bons e a bom preço, sempre que possível de bons pequenos produtores…

  • Aprender a Provar Vinhos

    Apreciar um vinho tem muito mais interesse do que há primeira vista se possa imaginar.

    A prática de per si, ao contrário do que poderia parecer, pode não ser um caminho sólido veja-se uma pessoa, bom bebedor, mas que apenas aprecia vinhos duma determinada região em detrimento de todas as outras. A amostra é limitada, o resultado só pode ser o mesmo.

    Pense-se ainda no caso dum homem, ou mulher do mundo, aprecia muitos e variados vinhos das mais diversas origens, dir-se-ia que se estava na presença dum ou duma conhecedora, o que não é rigorosamente verdade, pois o apreciar diversidade em quantidade não é sinónimo de saber avaliar vinhos, que vai muito para além do: gosto, não gosto…

    Todas as pessoas que se interessam minimamente por este tema e o poder falar sobre ele com um mínimo de consistência, deveriam ponderar frequentar um curso de iniciação à prova para se dotarem dos conhecimentos teóricos e práticos que lhes permitam aferir minimamente sobre vinhos.

    Na verdade se eu lhe perguntar como se faz vinho branco, saberia responder-me? E espumante? E vinho branco de uvas tintas? E vinho do porto? Como vê as questões são variadas e pertinentes e as respostas nem sempre fáceis ou intuitivas.

    Dizia Eça de Queirós que para ensinar é necessário cumprir uma condição mínima: saber. Assim, conhecer os fundamentos básicos de como são feitos os vinhos mais não é do que senso comum para ao avaliá-los saber analisar, ler, sentir.

    Tão ou, mais importante do que a parte teórica é a prática que sob o ponto de vista sensorial nos treina para avaliar de forma empírica os vinhos, classificando-os, comparando-os e encontrando naqueles de que mais gostamos, as razões dessa paixão.

    O treino com bases empíricas, aqui sim, desde que devidamente orientado conduz-nos ao caminho correcto e que, uma vez iniciado não tem fim, pois a nossa procura é tão incessante quanto a nossa curiosidade….

    A prova de vinhos começa por treinar o olhar, conhecer-lhes as cores e os seus significados, permitindo responder a perguntas como a idade expectável dum vinho, que depois se confirmará, ou não, nos sentidos que se seguem.

    O nariz é o sentido seguinte, porventura o mais poético, que detecta o bom e o menos bom que o vinho tem para mostrar: os aromas, os frutos, as flores, a madeira, a evolução e porventura os defeitos que o mesmo possa ter, e que podem ser só a falta de atributos.

    Finalmente o verdadeiro juiz, o paladar, esse é quem dita a sentença final, pois um vinho que na boca não se comporta condignamente é um vinho sem interesse.

    À semelhança do nariz, a boca reencontra os sabores sugeridos ao aroma, ou não, mas avalia igualmente os seus taninos, o álcool, a adstringência, o tempo de presença em boca, a elegância, a potência, atributos que acabam por ditar a sorte dum vinho. Exemplificando, um vinho com uma cor que não impressione, um nariz parco, mas uma grande boca, não falharia o seu copo e as suas preferências. Já se os dois primeiros pontos forem pujantes mas a boca parca, o mesmo vinho não agradará.

    Como vê é essencial identificar cada ponto e depois praticar muito, muito, sempre sem ideias feitas, pois se há coisa que o vinho nos faz de forma inesperada é surpreender-nos, e isso é tão, mas tão bom.

  • Vinho Maduro e Vinho Envelhecido

    Ao longo da minha carreira no mundo dos vinhos, das dúvidas que mais vezes tenho ouvido é sobre vinhos maduros e vinhos envelhecidos duas “classificações” que parecem ter tudo a ver, mas que, na verdade, não têm nada …

    Muita confusão ouvi eu sobre vinhos maduros presenciando conversas em que as pessoas admitiam que se tinha de esperar pelo vinho para ele amadurecer como se dum fruto se tratasse. É verdade que se deve esperar algum tempo pelo vinho após o seu engarrafamento para se recompor do “trauma “ sofrido, mas passado, digamos duas semanas, um mês, copo com ele, segundo os gostos e gastronomia.

    Creio ser chegado o tempo de acabar com esta confusão perfeitamente admissível, uma vez que a designação de vinho maduro foi criada apenas como contraponto a uma outra, a dos vinhos verdes, ou seja vinhos que não são produzidos na região dos vinhos verdes.

    Simples, não? E no entanto presta-se a confusões….

    Entretanto surge-nos outro conceito, o de vinho envelhecido. Na verdade um vinho envelhecido é um vinho que, depois de engarrafado, se deixou passar algum tempo, para que esse mesmo tempo o marcasse.

    Como reconhecer um vinho envelhecido?

    É muito fácil reconhecer um vinho envelhecido uma vez que a sua cor começa a apresentar uns tons atijolados, ou seja o rubi vivo inicial, vai dando lugar, como acabei de referir, a tons cor de tijolo. Ao nariz, os aromas de frutos vermelhos dão lugar a outros que lembram compotas e, finalmente, a outros chamados terciários.

    A evolução dos aromas é, naturalmente, acompanhada pelos sabores que evoluem no mesmo sentido.

    Estão então traçados os pontos essenciais para que você reconheça imediatamente um vinho envelhecido assim que este lhe for apresentado.

    Como associar vinhos envelhecidos à nossa gastronomia tão rica?

    O grande segredo à mesa é a harmonia: um grande vinho conjugado com uma refeição ligeira, sobra vinho; como uma grande refeição com um pequeno vinho, falta vinho…

    Partindo deste truísmo à medida que os vinhos evoluem, envelhecendo, deve ter-se o maior cuidado com que gastronomia se complementa, uma vez que os aromas e sabores do vinho devem ser casados com comidas algo delicadas, sem arestas, ou temperos excessivos para que ambos se conjuguem perfeitamente.

    Simples, não é? Nem tanto, é que da teoria à prática vai alguma distância, mas como se diz com verdade, a prática é a mãe da experiência… Divirta-se a experimentar…

  • Como ler o rótulo de um Vinho?

    A apresentação do Vinho

    O rótulo numa garrafa de vinho seja tinto ou branco, espumante ou rosé, é sempre, mas sempre, o seu cartão-de-visita, talvez por isso os produtores e suas empresas tenham um imenso cuidado naquilo que podemos perfeitamente chamar de estética do rótulo.

    Na verdade, esta tem de corresponder duma forma directa ao objectivo delineado pelo seu responsável, não cabendo na cabeça de ninguém, por exemplo, colocar um rótulo graficamente descuidado numa garrafa de um grande reserva, ou vice-versa colocar um rótulo extraordinariamente trabalhado num vulgar vinho de mesa.

    Parece-me que a primeira coisa a reter num rótulo será a sua imagem gráfica numa correspondência directa à categoria do vinho em causa.

    O informador

    A segunda função do rótulo é informar sobre o conteúdo da garrafa devendo ter de forma bem clara:

    • A marca – que deve estar devidamente registada e autorizada nos organismos competentes
    • O nome – o vinho pode ter um nome associado, por exemplo, a uma marca
    • A região – a região de produção do vinho
    • A categoria de região – ou seja, se se trata de uma denominação de origem controlada, de um vinho regional ou até sem qualquer indicação no caso dos vinhos de mesa.
    • Ano de produção – particularmente importante no caso dos brancos, uma vez que quanto mais recentes melhor, no caso dos vinhos tintos podemos avaliar a aquisição de vinhos mais jovens, ou menos.
    • Produtor – o responsável pela produção do vinho, seja em nome individual ou sociedade
    • País de produção

    E por aqui se ficam as principais informações constantes dum rótulo de vinho.

    A história, no entanto, não termina aqui, porque nos devemos também debruçar sobre os contra-rótulos, este igualmente importantes para que se esclareçamos consumidores e para que se cumpra a lei.

    Informações que devem constar dum contra-rótulo

    Geralmente o contra-rótulo contém outro tipo de informação podendo, evidentemente, repetir alguma da constante no rótulo. Assim, lá encontramos:

    • Uma descrição sobre a região originária do vinho, castas usadas, e, por vezes, uma prova do mesmo. Esta informação é com alguma frequência repetida em vários idiomas, o do país, o inglês, ou qualquer outro no caso do vinho se destinar à exportação para outros mercados.
    • Identificação da sociedade produtora, ou produtor, com a sua morada fiscal, por vezes seguida do site.
    • Produto de Portugal – obrigatório por lei
    • Indicação do volume alcoólico do vinho (esta informação pode constar no rótulo)
    • Lote a que o vinho pertence
    • Capacidade da garrafa (esta informação pode constar no rótulo)
    • Código de barras
    • Selo da comissão vitivinícola regional, devidamente numerado e exclusivo de cada região de produção, e de acordo com a categoria para a qual o vinho foi certificado: D.O.C, ou regional
    • Símbolo do ponto verde

    Com todo este esclarecimento disponível entre rótulo e contra-rótulo o consumidor está perfeitamente habilitado a efectuar as escolhas dos seus vinhos segundo os seus desejos e preferências.

    Boas compras!

  • Porquê pertencer a um Clube de Vinhos?

    Há muito que me anda a roer a vontade de escrever sobre o pertencer a um Clube de Vinhos, pois eu, confesso, sou fã de clubes de vinhos, não pelo simples facto da pertença ou da sensação de exclusividade a eles associada, mas simplesmente porque me dão benefícios reais, que valorizo, e me apresentam vinhos que doutra forma nunca conheceria. Acrescento o facto da extensa informação que me trazem e que muito tem contribuído para a minha formação enquanto Enófilo

    Contrariamente à maioria das pessoas fujo de reduzir todos os problemas a dinheiro, a um custo, se preferir, uma vez que sei que há “coisas” cujo valor ultrapassa em muito esta forma de ver a questão. Cito uma ou duas, de entre as que me parecem mais valiosas: a variedade, a comodidade e a informação.

    Sim interesso-me por vinhos não só por os conhecer mas também pelo seu consumo e, igualmente, pela sua história enquadrada pela região e pelo produtor e isso, caro leitor, poucos têm unhas para ir ao cerne e duma for a consciente fazer uma escolha esclarecida, explica-la, fundamentá-la e finalmente submetê-la ao meu julgamento enquanto apreciador dos vinhos que para mim descobrem, me entregam e que criteriosamente avalio.

    Paulatinamente somei ao prazer do consumo esclarecido, o gozo da posse podendo afirmar sem receio que possuo uma cave de que me orgulho, e da qual sei o seu nutrido valor. Dá-me gozo organizá-la, mirar os vinhos, contar as garrafas, arrumá-las, e mais do que tudo é na cave quase em meditação que decido o vinho que vou eleger para o meu almoço ou jantar. É ali que tenho as minhas epifanias e que quase numa solenidade processional acrescento ou retiro as garrafas de vinho que decidi. É um facto que os meus amigos a cobiçam, paciência, é minha.

    Pouco a pouco pela acção dos Clubes de Vinhos tornei-me num coleccionador de vinhos que catalogo por Regiões, produtores, anos e quantidade de garrafas ainda disponíveis. Sim, uma das minhas fraquezas é o sentimento de posse, e o poder de vida ou morte sobre toda e cada uma das garrafas que possuo.

    Mais do que o ter o que verdadeiramente me preenche é o fruir, o conhecer o apreciar, e sinto que tenho tido muita sorte neste aspecto, e muito sinceramente, sozinho não teria conseguido percorrer este caminho de descoberta e valorização pessoal que a pertença ao Clube me tem permitido sempre com a garantia de estar a apreciar vinhos cuidadosamente e criteriosamente escolhidos para mim.

    Sim, eu sei que tinha outras alternativas, nomeadamente ir para a internet e perder o meu rico tempo a desfilar garrafas, marcas, anos, produtores, regiões indo por caminhos fáceis, gastos, e sem qualquer garantia de sucesso ou minimamente estruturados. Não, essa não é a minha praia.

    Definitivamente um Clube de vinhos nem que seja por uma simples razão: a solidez das escolhas dos vinhos por contra do papaguear puro e simples de produtores, rótulos, anos, que nada mas nada dizem.

    Sim, meus amigos são os vinhos que falam e eu, modéstia à parte, cada vez os entendo melhor.

  • Enoturismo

    O Enoturismo como seu aparecimento veio traduzir-se numa dádiva para todos, mas na minha opinião os maiores ganhadores e grandes beneficiários são os consumidores que enveredam por este tipo de turismo.

    Os produtores convenhamos nem estavam muito para aí virados concentrando o seu foco na produção, a evolução do mercado com o enorme aumento de mobilidade das pessoas a isso obrigou, e a isso tiveram de responder adaptando as suas estruturas criando “pequenos museus” dentro das suas adegas para contarem a sua história e proporcionarem a proximidade dos turistas/consumidores à realidade dos seus vinhos.

    Claro que seguiram os exemplos vindos lá de fora, casos de sucesso como o Piemonte que em época de vindimas se enche literalmente de visitantes que querem ver, acompanhar e participar no desenrolar dos trabalhos, ao mesmo tempo que vão apreciando vinhos de colheitas anteriores familiarizando-se assim com cada casa de produção.

    Se falei do Piemonte é porque conheço, poderia juntar sem dificuldade a Toscana, e mais umas quantas regiões embora me limite a apontar entre nós, o caso do Douro, que depois de ser considerado Património da Humanidade o afluxo turístico não pára de aumentar com excelentes resultados.

    Os grandes beneficiários deste, chamemos-lhe fenómeno, são exactamente os produtores e arriscaria a zona de produção em que se encontram inseridos. É fácil aceitar que após uma visita, contacto directo com a realidade daquele produtor, prova dos seus vinhos e participando, ou não, de actividades especificas, gera-se uma proximidade que se reflete numa fidelização conseguida através do contacto mais forte que há: o pessoal. Acresce que a maioria das pessoas nas lojas do produtor adquire sempre algumas garrafas dos vinhos que mais gostou, vinhos esses que amanhã, em casa, partilhará com amigos e familiares num boca a boca que só beneficia o produtor, a região, mas cujo último e supremo beneficiário é o consumidor.

    O consumidor sublinhe-se irá certamente manter esta proximidade e revivê-la quantas vezes entender, tentando sempre que possível continuar a adquirir vinhos deste produtor, eventualmente de colheitas diferentes uma vez que o transportam a uma realidade tomada como sua da qual é testemunha viva.

    Não menos importância têm as agências de viagens, algumas especializadas neste tipo de turismo, que criam os circuitos, agilizam os meios, dinamizam a economia local, e quando o trabalho é bem feito podem conseguir a proeza dos consumidores regressarem à região com tudo o que de positivo este facto tem, note-se que o principal será económico claramente acompanhado por outros índices nomeadamente de satisfação, cuja medida não é quantificável.

    Compreende-se assim claramente que o Enoturismo é de importância vital para a economia, e dentro desta para os produtores, seus últimos destinatários, sendo de realçar a dinamização de regiões de si carenciadas, pobres, que com o enoturismo conseguem valorizar a sua gastronomia, o seu património, gerando emprego, dinamizando actividades novas e riqueza na região.

    O Enoturismo é assim essencial para todas as regiões e os seus impactos só são positivos.

  • À mesa com Ruby

    Tempos atrás dediquei-me à missão de descobrir qual a melhor forma de servir os vinhos do porto tintos na sua categoria Ruby que se caracterizam por serem de cor retinta, frutados, com corpo e estrutura q.b. e com taninos redondos, tornando-os mundanos, fáceis de beber e, mais importante, de conjugar com a mesa.

    Estes vinhos possivelmente pelas características que acabo de citar, foram responsáveis por parte significativa do comércio de vinhos do porto para Inglaterra, pois estes apreciavam vinhos do porto Ruby em grandes quantidades, nomeadamente nos “pubs” onde, por vezes, era consumido misturado com limão.

    Conhecedor destes hábitos nos “pubs” ingleses experimentei e gostei, como gostei igualmente de, com gelo, lhe adicionar água tónica e uma folha de hortelã-pimenta. Confesso que fiz outras experiências neste domínio, todas ou a maior parte, coroadas de sucesso.

    Pesava-me, porém na consciência o de alguma forma desvirtuar os vinhos do porto Ruby, pois pura e simplesmente adoro apreciá-los frescos como aperitivo enquanto saboreio um ou outro patê de ganso ou porco, batatas fritas ou até algum resto sugestivo do jantar de ontem que encontro a vaguear no frigorífico.

    A família, essa, pura e simplesmente, adora consumir vinho do porto Ruby com as sobremesas, sirvo-o fresco, e os demais bebem-no surpreendentemente com mousse de chocolate, além de com pastelaria variada mais gulosa ou então com aquele doce ou tarte especial comprada para o efeito.

    Em casa de amigos próximos que alegam ascendência longínqua de matriz inglesa digladiam-se por acompanhar bombons de chocolate com uma boa garrafa de vinho do porto Ruby, e segundo já pude constatar nem são especialmente exigentes quanto ao tipo de bombons com que o consomem, vão desde os elaborados com chocolate escuro, aos mais vulgares chocolates de leite. A este respeito, passeava distraidamente quando ao passar numa casa especializada em chocolates, lá vi uns “afrancesados” “chocolat au Porto”.

    Como vê as alternativas para se servir vinho do porto ruby são além de múltiplas, fáceis de imaginar e abertas à experimentação e ao gosto de cada um. Por falar nisso, aqui há tempos anunciado o jantar “coq au vin”, pedi à minha mulher para, em vez de utilizar o vinho tinto habitual na confecção da receita, adicionar vinho do porto ruby, na mesma proporção. Ainda longe da hora de jantar já o perfume invadia a casa perante a curiosidade geral. À mesa foi uma festa, dividiu-se irmãmente o vinho do porto Ruby que tinha sobejado, e jantou-se principescamente “coq au vin de porto Ruby”.

    Como se vê nada mais fácil do que encontrar formas de servir “un vin de porto rouge”, bastando para tal dedicar algum do seu tempo a encontrá-las, aconselho a que comece com as clássicas e as vá diversificando à medida que o seu conhecimento e arrojo se vão instalando.

    Aconselho ainda, naturalmente, que estes vinhos do porto Ruby sejam presença regular na sua cave não só para que com eles se familiarize, descobrindo-os e dentro destas quais as mais ao seu gosto, mas igualmente por outro motivo ponderoso, embora egoísta, imagine que lhe apetece um determinado vinho do porto Ruby e não o tem na sua cave: desgraça!