As Questões da Cave
Constituir uma boa cave em nossa casa é o sonho de todos nós mas na hora de o fazermos levantam-se-nos uma série de questões que nos atrasam, para não dizer paralisam.
Demos de barato que temos um bom sítio para instalar a nossa cave, o que pressupõe seja minimamente espaçoso, fresco e arejado além de ter, pelo menos, uma ficha de corrente eléctrica. Porquê esta última exigência? Mais adiante compreenderá.
Encontrada a localização da nossa cave, todas as questões se prendem com que vinhos a vamos rechear constituindo o nosso valioso acervo que responderá aos nossos caprichos no que ao copo concerne.
Os Vinhos
Claro está que uma Cave é mais do que um somatório de vinhos, daí a primeira questão que nos deve preocupar é que tipos de vinhos eu quero na minha Cave, isto porque muito para além dos vinhos brancos e vinhos tintos há outros tipos de vinhos que devemos ter sempre connosco. Falo dos Vinhos do Porto, Moscatéis, talvez um ou outro Madeira, espumantes, Rosés terminando com umas boas aguardentes.
Como vê não chegavam as questões em torno dos vinhos brancos e tintos, tivemos de as complicar….
Vinhos brancos, Rosés e Tintos
Por uma questão de coerência sugiro que abordemos os vinhos brancos junto com os vinhos rosés, isto porque ambos devem ser consumidos enquanto jovens, pelo que os cuidados a ter com uns e outros são semelhantes.
O maior cuidado na compra de vinhos brancos e rosés deve ser o de comprar das colheitas mais recentes garantindo assim que se mantém frescos por mais tempo e proporcionando-nos um maior prazer.
Imaginado que, de vez em quando, nos apetece marisco ou um aperitivo fresco sugiro que nos apetrechemos com umas garrafas de um ou dois bons vinhos Alvarinho, e outras tantas garrafas de um bom vinho verde. Aparte disso vamos aos maduros privilegiando os vinhos Brancos da Bairrada, Bucelas – um bom Arinto é essencial – e, claro, do Alentejo. Se quisermos e pudermos ir mais longe some uns valores do Douro e Dão, estes mais virados para peixes do que propriamente para aperitivos ou mariscos.
No que aos Rosés toca, compre uma meia dúzia de garrafas e se gostar repita a aquisição, lembra-se que são vinhos para beber jovens.
Vinhos tintos
Aqui chegados embrenhamo-nos num labirinto de dúvidas, gostos e quereres, isto porque neste capítulo, almejamos os melhores vinhos comprados, se possível, ao melhor preço. Ora isto não tem muito a ver possivelmente com o que necessitamos, uma vez que nem sempre temos as chamadas grandes refeições, essas sim pedem grandes vinhos, e lembremo-nos que o vinho se deve adequar à comida.
Nesta linha de raciocínio vamos às compras de vinhos médio de gama para cima, uma vez que os outros não são o nosso foco. Pessoalmente sempre pensei que a melhor forma de constituirmos uma garrafeira é sermos sócios dum Clube de Vinhos sério uma vez que fazem uma selecção cuidada. E apreciando o vinho à entrega podemos muito bem guardar as restantes garrafas na nossa cave já com um conhecimento de causa do valor que lhe acrescentámos.
O cuidado que devemos ter é o distribuir os nossos vinhos tintos por regiões diferentes, nem só Douro e Alentejo, mas ter o cuidado de lhe acrescentar um toque de Dão, outro de Península de Setúbal, um cheirinho de Ribatejo e outro de Bairrada ficando com o mapa vinícola de Portugal em nossa casa.
Quanto aos vinhos tintos como já se referiu devemos trabalhar na fasquia do médio de gama para cima, uma vez serem vinhos que nos oferecem alguma garantia acrescida de duração/ envelhecimento que nos é valiosa quando os mesmos não são para consumo imediato.
No domínio dos caprichos, aí sim, devemos adquirir uma boa meia dúzia de grandes vinhos tintos, ao nosso gosto, para aqueles momentos especiais que mais do que os pedirem, os exigem.
Vinhos do Porto
Sem necessidade de mais apresentações, concordará que a presença destes vinhos na nossa garrafeira é indispensável, assim incline-se para a aquisição de algumas garrafas de Ruby e Tawny, para acompanhar de forma jovial as suas sobremesas, ou para ser fresco como aperitivo.
Na hora de falar à séria vá para os pesos pesados, 10,20 e 30 anos, Late Bottled Vintages e os Vintages propriamente ditos esses sim, para guardar e mais tarde ir à sua procura porque são os indicados para aquele queijo, aquele doce conventual, ou simplesmente em fim de refeição.
Moscatéis, espumantes, Madeira e aguardentes
Nesta “caldeirada” temos os vinhos que a menos nos dedicamos, o que é uma pena. Na verdade, não há um único motivo para não servirmos espumantes em nossas casas pelo que nos devemos abastecer junto da Bairrada e uma ou outra origem que nos ofereça segurança.
No que toca aos Moscatéis, Madeiras e Aguardentes, uma presença simbólica serve perfeitamente, nem que seja para nos forçarmos a de vez em quando irmos em sua demanda, e quem sabe com a boa surpresa reforcemos a sua presença na nossa cave e à nossa mesa.
Nota final
A nossa cave não é uma prisão, é sim um espaço de prazer e fruição, pelo que mais do que ter devemos usá-la com frequência rodando os vinhos que temos em acervo e garantindo a sua renovação.
A cereja em cima do bolo será o podermos ter um armário frigorífico para conservar os nossos melhores vinhos em condições perfeitas, e claro termos vinhos brancos sempre a boa temperatura bem à mão de semear.
Convencido? Comece a sua cave e boa sorte, lembre-se que o caminho faz-se caminhando.