• Como se Distingue um Vinho Floral de Um Frutado

    Grande questão esta, confesso, da qual nunca me tinha lembrado e cuja resposta é, no mínimo, delicada. Devo começar por afirmar que nunca fui, nem quero ser, provador de vinhos daqueles que encontram as notas mais incríveis num piscar de olhos, ou, melhor dito, num sorver de aromas…

    Sempre salvaguardei para mim aquela postura que me pareceu a indicada para guardar todo o prazer: a de consumidor atento e esclarecido. Sim, identifico alguns aromas dos vinhos – os mais evidentes – sim, gosto de o fazer, mas nunca me esforcei para ir muito além disso reservando-me para aquele que julgo o grande juiz do vinho, a boca e a apreciação global do dito.

    É certo, no entanto, que à minha volta nas provas de vinhos entre entendidos se fala de aromas a flores, flores brancas, violetas e eu sei lá mais quantas, isto, naturalmente nos vinhos tintos e brancos, pelo que bom aluno que tento ser acredito que os aromas estejam lá, que sejam identificáveis e, como tal, façam parte da descrição aromática dos vinhos.

    Se você acha isto um ponto importante dê-se ao trabalho de ir para a internet pesquisar sobre o tema e certamente encontrará castas de vinhos onde esses aromas sejam evidentes, portanto o trabalho que terá é comprar um par de garrafas desses vinhos e dar-se ao trabalho de os detectar e fixar. E pronto aí terá os seus aromas a flores.

    Mais fáceis e directos, talvez por mais quotidianos, os aromas a fruta sejam mais fáceis de identificar. Dou-lhe vários exemplos: num castelão detectar aroma a morango pode ser fácil, como nos vinhos tintos alentejanos jovens detectar frutos vermelhos não será difícil – um bom branco alentejano Antão Vaz falará de frutos tropicais – os durienses tintos também falam de frutos vermelhos.

    Enfim, limitação minha os frutos vermelhos são-me mais fáceis de identificar, já as flores, além de menos frequentes são-me bem mais difíceis de lá chegar, enfim, insensibilidades masculinas….

    Eu, que não almejo ir tão longe vou-me ficando pela preocupação de beber bom, beber diferente e beber melhor, indo todo o meu prazer para os casamentos gastronómicos do vinho e, claro, a invariável constituição duma boa e variada cave.

    Enfim sou limitado, sei que as flores estão lá, que alguns as “colhem”, mas o meu caminho é outro bem menos preocupado mas igualmente recompensador.

  • Vinhos – Aspectos Práticos

    Dos bons vinhos

    O que é um bom vinho? Esta é a pergunta que nos dilacera e, pela qual, bem que pagávamos 1.000.000 de dólares… No entanto, é uma pergunta descuidada e incauta pois de tão genérica a sua resposta só pode ter a mesma característica, o que, como se sabe, não costuma levar a lado nenhum. Quase uma pergunta existencial.

    Todas as perguntas devem ter uma resposta – salvaguardo aqui as de curiosidade – vamos elaborar um pouco sobre esta questão sobre o que é um bom vinho.

    Pessoalmente um bom vinho é o que me sabe bem, um vinho excepcional é o que me sabe sempre pela vida. Embora simples há aspectos a ter em conta, deve ser um vinho bem feito uma vez que nem me passa pela cabeça gostar de um vinho com defeito, ou sem atributos de maior. Uma boa parte da resposta passa, no entanto, pelo acompanhamento do vinho: na verdade o casamento do vinho com a gastronomia é o verdadeiro segredo, e o verdadeiro fazedor de prazeres…

    Assim, para mim, o bom vinho é aquele em que acerto no casamento entre o dito e o que é servido na refeição, acrescento ser este o grande e apaixonante desafio que enfrentamos sempre que nos perguntamos qual o vinho que vou escolher?

    Aos Vinhos de Reserva

    Com frequência constato que a maioria das pessoas supõe e aceita como verdade que um vinho de Reserva é sempre bom e mais, uma boa escolha. Nada mais leviano a meu ver uma vez que o nosso julgamento repousa sobre algo que lemos e não sobre o que comprovámos.

    Claro que um vinho classificado como reserva nos oferece maiores garantias de qualidade se é isso que procuramos. Devemos, no entanto, questionar-nos sobre se uma vez engarrafados estes vinhos não evoluem e não têm fases menos boas, claro que têm pelo que o rótulo não é tudo.

    Paralelamente há vinhos que merecem a designação de Reserva mas que por vários motivos o produtor opta por não os submeter à Câmara de provadores da sua Região, logo não são candidatos a esta designação, pergunto são piores por isso? Claro que não.

    Temos então um dilema a resolver sobre que vinhos escolher como bons, e, sinceramente, a única resposta que me serve é os que me sabem extraordinariamente bem, os outros que digam o que entenderem, eu reservo para mim este julgamento quer se tratem de Reservas, ou não.

    Como abrir uma garrafa de vinho?

    Com um saca-rolhas diria, mas muito, para não dizer tudo, ficaria por dizer.

    Sempre que penso em abrir uma garrafa de vinho, e não me vou deter nos aspectos sobre como cheguei a essa decisão, a primeira questão com que me preocupo é com a temperatura do vinho garantindo que está sempre um pouco mais fresco do que o recomendado, pelo simples facto de que o vinho no copo aquece rapidamente, e não quero perder nenhum dos seus aromas à medida que a sua temperatura sobe e ele se mostra.

    Seguidamente preocupo-me com o manuseamento da garrafa uma vez que no caso dos vinhos tintos não sei se o vinho tem ou não pé, leia-se sedimento, uma vez que se a resposta for positiva não pretendo que o vinho fique turvo, ainda que inadvertidamente. Note-se, a este título, que o vinho ter pé não é nem pode ser defeito, é aliás a maior garantia que temos que o vinho é genuíno.

    Bom, daqui em diante a resposta é linear pois creio que todos cortamos a cápsula do vinho com o cuidado de ficar bem cortada, obra perfeita, para o que frequentemente utilizo utensílios próprios para o efeito.

    A última etapa é a extracção da rolha o que tento aconteça sempre com a maior suavidade pelo que pacientemente vou rodando sobre a rolha o dito saca e, uma vez tendo introduzido o suficiente tento retirara a rolha com a graciosidade que cumpre até ouvir o som característico da sua libertação. Tenho nesta altura o cuidado de mirar o seu fundo para ver se houve fugas, e de a levar ao nariz sendo este o meu primeiro contacto com o vinho que escolhi.

    Por educação e pressão feminina tenho o cuidado adicional de introduzir no gargalo uma daquelas rodelas próprias para absorver o pingo – apara pingas – que escorre pelo gargalo da garrafa depois de servir o vinho, evitando sujar a toalha manchando a sua alva cor…

  • A Tradição das Vindimas

    Desde tempos imemoriais

    Abordar o tema da tradição das vindimas é recuar a tempos imemoriais onde as recordações se perdem por de tão longe serem originárias, na verdade esta tradição remonta à plantação da vinha. E quem sabe , ao certo quando isso foi , desde os tempos romanos, fenícios ? Sim, quem sabe ?

    A tradição

    Só quem nunca participou numa vindima é que não se apercebe da profundidade do seu significado para a união da família , dos amigos, das gentes, para recolher o que a Mãe natureza oferece.

    Será este , porventura, o primeiro significado da vindima a recolha , a fartura, o inicio da produção do nosso vinho – de todos o melhor – e, naturalmente, a união de todos em torno  do objectivo comum da recolha que , noutros tempos, assegurava a sobrevivência.

    Este ambiente de festa e fartura é especialmente propicio para as mais velhos chamarem a si os mais jovens e lhes passarem os ensinamentos inerentes ao saber de experiência feito, e os moldarem a estas actividades recordando  eles também os doces tempos da sua juventude quando os seus pais e avós, com eles fizeram igual.

    Assim se cultivam os gostos dos mais novos, se moldam os seus feitios, aprendem a trabalhar, valorizam a equipa, o convívio, a família e ganham o gosto pela terra que os ampara e sustenta no mais lidimo respeito pelas tradições de antanho, neste caso transmitidas pelos familiares .

    A azáfama

    Vindimar é festejar a vida e começa muito antes do acto de colher as uvas, sim há que limpar as adegas, rever maquinaria, desinfectar as cubas, assegurar gente convocando os habituais e tentando suprir alguma falha deste ou daquele elemento que este ano por algum motivo não pode vir.

    Cuida-se igualmente da maquinaria que não pode nem deve falhar, das caixas de plástico para transportar as uvas, das cestas que distribuídas a cada vindimador para que as encha, as tesouras, Cuida-se igualmente do rancho com que se matará a fome a cada um dos , este ano, vierem para a vindima.

    Na vinha o dono, o feitor o adegueiro vão controlando a maturação das uvas deitando-se a adivinhar quais as que primeiro devem ser colhidas e mais ou menos qual a quantidade que darão para na adega tudo bater certinho.

    Acordam a olhar para o céu não vá o tempo pregar partidas chuva ou demasiado calor são inimigos, ladrões, que entram pela porta das traseiras para roubar o que a Mãe natureza criou. Cuidam da vinha como se de um exército se tratasse passando amiúde revista às suas tropas.

    Vindima-se

    Começa-se hoje , é tudo o que as pessoas querem ouvir. Estão desejosos que chegue o dia, falam disso nos cafés, aos telemóveis, à mesa . É hoje ? É amanhã ?  Estão nervosos já tiraram férias no trabalho , tem que dar certo.

    Chegou o dia, à hora combinada lá estão todos ainda ensonados mas desejosos por ir para as vinhas colher os seus dourados cachos. Distribuem-se as tesouras, as pessoas pelos transportes e , qual armada, partem às ordens do capataz. Chalaceiam uns com os outros, lembram esta ou aquela história divertida do ano passado ou do anterior, têm boa memória gostam de recordar com todos os pormenores.

    Aí estão eles a vindimar à compita uns com os outros , homens , mulheres, miúdos , tesoura nas mãos aí vão eles em busca dos cachos que roubando às videiras farão seus. E este ano tem de correr melhor do que ano passado, tem que ficar na história dos amigos, da propriedade, da Região.

    A hora da refeição chega e sentados comem o almoço sem tirar os olhos da vinha discutindo sobre o estado das uvas , melhores piores do que no ano passado, e bebendo um vinho tinto da região.

    Jogam-se de novo ao trabalho até sol posto se for preciso enquanto da adega chegam os ecos da laboração, pergunta-se qual o grau das uvas para ver quem deu o melhor palpite, avós, netos , filhos, famílias, ali se juntam para colher o sustento para o inverno seguindo na vida as pisadas dos que, antes deles, o mesmo fizeram, hoje a eles calha o trabalho  na esperança que os mais novos , amanhã, os substituam dando continuação ao que a tradição manda e espera.

    A adiafa

    Terminada a vindima, mãos e corpos doridos , cansados , mas espíritos bem dispostos  antecipam as jornas e o que com elas farão, enquanto ansiosamente aguardam a adiafa, aquela refeição em que todos se juntam para comemorar o fim da vindima por aquelas paragens.

    As histórias já muito repetidas voltam a circular entre todos despertando as mesmas gargalhadas, enquanto se ultimam os pormenores e chama para a mesa.

    O vinho tinto, do bom, já corre pelas gargantas secas , já se come pão com aquele chouriço de todos os anos, com os torresmos, as azeitonas, os queijinhos. À mesa ao mesmo tempo que se partilha a refeição com as mulheres a trazerem travessas e travessas para que não falte a comida a ninguém. O vinho continua a jorrar tal como as histórias entre todos, às que se somam esta ou aquela que se ouviu no café, na mercearia , na bomba de gasolina.

    No fim fuma-se uma cigarrada com o café, e aquela aguardente caseira que todos adoram e que lhes queima as entranhas, mas são homens e os homens aguentam, gostam, pois são fortes.

    Uns mais entornados do que outros despedem-se no fim ,mas todos sem falta marcam presença para o ano que vem ,pois pode mudar muita coisa nas suas vidas mas nenhuma, mas nenhuma, os fará romper com a tradição.

  • O que é Sommelier, Enólogo e Enófilo?

    Professor eu fosse e rejubilaria com esta questão não só pela justeza da dúvida, pela inteligência da questão mas acima de tudo pelo interesse que demostra pelo tema e ligação ao vinho.

    Na verdade hoje em dia as pessoas têm tendência a chamar Enólogo a tudo o que mexe em vinhos, ou então sabiamente resumem no título Eng. se sentem alguma solidez nos conhecimentos, ou em linguagem de professor domínio da matéria…

    Proponho pois, começar a esclarecer esta matéria precisamente e falar sobre o Enólogo em grande parte responsável pelo desenho e nascimento do Vinho. Sim, Enólogo é Engenheiro, tem curso específico e é responsável, não poucas vezes, pelas vinhas, pela adega e pelo vinho, convertendo-o numa personagem primordial no nascimento de cada vinho.

    Na ortodoxia o Enólogo deveria apenas preocupar-se com o que passa na adega e nos controles de maturação das uvas. Claro cuidando de tudo rapidamente, foi para a vinha tornando-se responsável não só pelas castas escolhidas mas igualmente por tudo o que se passa na vinha.

    Do exposto a figura do Enólogo é a central de todo o processo de desenho de cada vinho dele dependendo a maior parte das decisões decorrentes de todo o processo.

    Enófilo já nada tendo a ver com o Enólogo mas é antes o avaliador/ apreciador do seu trabalho, Enófilo é assim a pessoa que se interessa por vinhos, pela sua apreciação, colecção, pelos seus casamentos gastronómicos e por constituir uma boa garrafeira.

    Assim, aí temos o Enófilo a avaliar cada vinho, a procurá-lo e sempre que possível a guardá-lo na sua cave para que dele disponha sempre que lhe aprouver. É justo colocar o Enófilo no centro de todo o processo como aquele para quem todos trabalham pois de alguma forma todos somos Enófilos em grau mais ou menos avançado. Sim, gostamos de apreciar um bom vinho, de lhe descobrir os aromas, de lhes apreciar as nuances das cores e finalmente de lhe saborearmos cada matiz dos ricos sabores que nos oferece e que uma vez no copo nos vai revelando. Parabéns a si Enófilo que o é de há longa data sem mesmo saber que assim era considerado.

    Os Enófilos são em última instância os juízes de cada vinho, elevado grau e responsabilidade….

    O Sommelier, afrancesado de nome, mais não é do que a personagem que no restaurante o ajuda na escolha do vinho para acompanhar a refeição, e se encarrega de lho servir em perfeitas condições seguindo os cânones estabelecidos que podem incluir ou não a respectiva decantação. Assim o Sommelier é uma personagem essencial nos bons restaurantes, contribuindo de forma decisiva para elevar a refeição a níveis únicos.

  • Que Vinhos Devo Casar Com o Borrego da Páscoa?

    Uma boa pergunta que além de válida é de extraordinária oportunidade, com que vinho devemos acompanhar o borrego da Páscoa.

    A preocupação é positiva e vai no sentido certo uma vez que nós , apreciadores, sabemos bem que nem todos os vinhos vão bem com todas as comidas, e sabemos igualmente que uma vez encetado este caminho da preocupação do que beber com quê este é irreversível , e , sendo-o nos leva a descobrir a enorme fonte de prazer que é o culto do refinamento à nossa mesa.

    Passando ao tema que aqui nos traz  hoje uma primeira resposta um tanto ou quanto vaga seria , que o acompanhamento  do cordeiro ou do cabrito depende da riqueza da sua confecção. No entanto estamos sempre a considerar duas formas de apresentação.

    A primeira , assado no forno recebemos logo indicação de sabores ricos embora delicados pelo que nos inclinemos a prescrever um vinho tinto de alguma idade embora em grande forma, o alentejano Guadelim entra aqui primorosamente uma vez que os sabores da prato se conjugam na perfeição com este vinho. Basicamente a regra para este conselho baseia-se na assunção da delicadeza dos sabores dos pratos de forno conjugados com um vinho “redondo” mas à altura.

    Passando à segunda forma de confecção , o ensopado, esta já se pode traduzir num maior atrevimento culinário enriquecendo-o com uma maior prodigalidade de condimentos culminando num final mais possante. Neste caso opte por um vinho mais jovem uma vez que retirará mais prazer da sua harmonização. Sugestões ? Os tintos da casa Ruy, o Arcadela, e ,porque não, o Herdade dos Templários ?

    Aqui ficam as sugestões do seu clube para que borrego ou cabrito sejam recordados frequentemente.

    Santa Páscoa !

  • Como Aprender Sobre Vinhos?

    Aprender sobre vinhos pode, além de ser agradável e simpático, ser considerado como um acto de cultura pois entroncamos num hábito milenar assumindo-nos como seus herdeiros.

    Apreciar vinho é, por isso , um hábito que vem de longe , bebia-se vinho pois tinha menos micróbios do que a água, bebia-se vinho nos barcos pois conservava-se melhor do que a mesma água, bebia-se vinho à mesa para acompanhar e completar a refeição, bebiam-se grandes vinhos, necessariamente caros, para mostrar ostentação e estatuto social.

    De então até hoje digamos que as motivações não se alteraram significativamente mas os vinhos sim. A globalização e o poder de compra fomentaram a curiosidade mãe do conhecimento, trazendo até nós novas regiões, novos vinhos e atrás de si uma multidão de marcas.

    Saber avaliar um vinho é a chave para uma caminhada imparável de prazer e descoberta que fatalmente começa no vinho “ a solo “ e segue rapidamente para a mesa na busca e avaliação das melhores conjugações gastronómicas ,e não se pense a este respeito que um simples arroz de tomate acompanhado com uns pasteis de bacalhau e um copo do vinho indicado não fazem parte deste quadro, não só o fazem como nos podem levar ao Céu.

    Avaliar um vinho é como andar de bicicleta, não é nada que não se aprenda sozinho, mas ajuda se alguém nos der umas dicas e nos guiar. A frio um vinho avalia-se pelas suas características visíveis , olfactivas e gustativas, ou seja pela sua cor , pelos seus aromas e , claro, pelos seus sabores.

    Como em tudo na vida há códigos , senão vejamos no que toca às cores um vinho novo tem uma cor forte e carregara a granada, que evoluirá ao longo da sua vida para rubi finalizando em tons atijolados. Conhecedores deste facto só de olharmos já extraímos informação. Ao nariz desvendamos igualmente códigos que numa perspectiva simplista poderíamos resumir da seguinte forma: o aroma é muito intenso, ou pouco ? é de qualidade , ou não ? É simples ou complexo ? Idêntica abordagem é valida para o sabor universalmente conhecido como o último juiz, assim ao obtermos resposta para saber se os sabores são intensos , ou não, se são variados ou não, se são duradouros, ou não e se são de qualidade, ou não saberemos muito sobre o dito em avaliação se tivermos estas respostas.

    Começar é sempre difícil, sozinho mais difícil o é, mas a verdade é que é fundamental meter-nos ao caminho e mesmo que lentamente avançar, lembrando-nos sempre que deve ser sempre a nossa opinião a prevalecer independentemente do que nos digam.

    Não temos professor ou ajuda? Não tem qualquer problema, faça um esforço, compre bom e eduque o seu paladar a um nível elevado, garanto-lhe que no dia em que cruzar com um vinho inferior dará imediatamente por isso.

    Uma nota final, a diversidade é fundamental na aprendizagem pois quanto mais respostas encontrarmos para o maior número de desafios mais evoluiremos . A este título talvez fosse bom ponderar em fazer-se sócio de um clube de vinhos , não só pela variedade de vinhos que têm mas , e mais importante, pela quantidade de informação que lhe fornecem.  Boa sorte.

  • Qual a Diferença entre Enólogo e Enófilo?

    Grande questão esta a que habita a nossa cabeça e que felizmente já revela algum, senão muito, interesse pelo vinho e suas coisas. Seus prazeres, em resumo.

    Começando pelo Enólogo poderia dizer-se que é o responsável por transformar as uvas em vinho. Grande mester este e quanta responsabilidade detém nas suas mãos e no seu julgamento. Sim, tem de ter formação específica, é um curso superior, e com frequência entra vinha a dentro, qual médico a prescrever cuidados, embora na acepção clássica digamos que a sua influência se inicia no momento em que decide vindimar.

    A adega é o seu átrio, o seu laboratório, a sua casa. Ali põem e dispõem e desenham cada vinho como pintores buscando o rigor do traço , de cada pincelada até que sem tempo nem regras dão por finda a sua obra e aí temos nós os vinhos que tanto nos apaixonam, sejam eles tintos, brancos, rosés ou espumantes ( sim estes últimos são vinhos igualmente! ).

    Claro que Enólogo dispõe hoje de grandes ajudas que o auxiliam no percurso de chegar aos seus vinhos, para mencionar alguns temos de referir o adegueiro seu lugar tenente que opera na adega a instruções do seu mestre , a ele reportando o desenrolar das vinificações para que este , avaliando, disponha o rumo a seguir. O laboratório é outro auxiliar precioso ditando e acompanhando as análises e o percurso do mosto na caminhada até se transformar em vinho.

    A título de nota final sobre Enólogo é ele que igualmente dita ou não o adormecimento do vinho na madeira , berço este apenas reservado aos eleitos , leia-se vinhos com maior potencial e estrutura.

    De forma simplista diríamos que uma vez efectuado o engarrafamento de cada vinho a tarefa do Enólogo aqui termina para dar lugar ao seu e meu julgamento se a sanha comercial nos permitir cruzar-nos com um dos seus vinhos.

    Aqui, meus caros leitores , a coisa muda de nome e desbravamos o caminho dos Enófilos , gesta de uma vida inteira que se inicia com o inocente interesse e degustação de vinhos, agudiza-se à medida que nos apercebemos de que nem todos os vinhos são iguais embora da mesma região, e conduzem-nos a embrenhar-nos na floresta da informação refinando a nossa aprendizagem , bagagem que não pesando apenas serve para nos apercebermos da nossa ignorância.

    Com os vinhos bola baixinha, ouvi eu dizer a personagem proeminente, já de provecta idade, do mundo dos vinhos recordando-nos que humildade e, porque não dizê-lo, associada à curiosidade ( vontade de aprender ) nos conduz por essa estrada recheada de descobertas que nos transforma em sólidos conhecedores e apreciadores de vinho  ou, Enófilos.

    Sinceramente apenas por questões pessoais parece-me que o Enófilo ganha em riqueza e cultura ao primeiro, mas , verdade seja dita, que o Enólogo não seja igualmente um Enófilo conceituado.

    Explicado a crianças o Enólogo é que faz os vinhos e o Enófilo o que os bebe de forma esclarecida e se diverte muito com isso.

    Simples, não é ?

  • Porque se Decantam os Vinhos?

    Uma excelente questão para cuja resposta temos de recordar que o vinho é uma matéria viva. Sim, uma matéria viva logo sujeita a alterações, evoluções  ambas provenientes de reacções químicas que se desenrolam em garrafa. Mas recuemos no tempo.

    Lembremo-nos que toda a história do vinho começa na vinha onde nascem as uvas que lhe dão corpo e uma vez maduras , colhidas vão directas para a adega. Aí chegadas separam-se do engaço encaminhado para as prensas que lhes extraem por pressão  o seu precioso sumo que é diligentemente  guardado em cubas INOX onde percorrendo o seu caminho dará origem ao vinho. E que caminho é este ?

    O sumo de uva  também chamado mosto entre os seus vários componentes têm o açúcar primeiro elemento a decompor-se através da fermentação alcoólica em que este se transforma em álcool , daí os vinhos terem não só diferentes graus alcoólicos , mais elevados ou menos consoante o pretendido. Convém aqui recordar que quanto mais maduras estiverem as uvas maiores teores alcoólicos serão obtidos.

    Terminada a fermentação alcoólica deve aguardar-se nos vinhos tintos por uma outra bem menos conhecida do cidadão comum, precisamente aquela que transforma o ácido málico em ácido lático e que , pode dizer-se arredonda os vinhos. Aqui chegados acredito que já se tenha feito luz sobre os vinhos , por vezes, desenvolverem aromas lácticos.

    Temos então vinho estabilizados uma vez que as suas reações químicas já se deram , pode beber-se ou guardar-se  em cuba ou no seu contentor último, a garrafa. Talvez seja um exagero afirmar que já se pode beber talvez não se deva por estar muito jovem , convém talvez deixá-lo repousar em cuba, amansar, e segurando a sede e a curiosidade , esperar por ele.

    Como facilmente se compreende os vinhos muito estruturados estão carregados de pequenas partículas resultantes das fermentações e que mais não são do que atestados de origem e de genuinidade. Uma pena um grande vinho ser privado deste seu ADN , limitando-lhe logo a duração.

    Assim, ao engarrafar os vinhos tem de se tomar uma decisão de peso, a da dimensão da filtração a efetuar à entrada na garrafa .

    Os dados são : se filtramos pouco – aconselhado nos grandes vinhos – com o passar do tempo os mesmos vão criar depósito , sedimentos, que no entanto lhe permitiram evoluir, envelhecer, com graciosidade e compostura ; se filtramos muito o vinho fica mais macio mas hipotecamos a sua duração no tempo.

    Como se depreende os primeiros devem ser decantados para que os sedimentos não cheguem ao nosso copo , enquanto que os segundos devem ser consumidos sem tal operação.

    Uma nota final : os sedimentos do vinho em garrafa são a melhor garantia que tem da nobre valia do vinho e de que se trata de um produto natural. Tudo a favor , portanto.

  • A Combinação de Vinho e Queijos

    Falar sobre aquele que é o casamento mais feliz de toda a história é tarefa de monta e de prazer, deixando, desde já, o aviso que se o leitor não gosta de vinho nem de queijo não deve passar destas linhas pois certamente que não lhe dirão muito.

    Falar de vinho e queijo é falar de, e com paixão, dois produtos que são absolutamente parte da nossa história e que somam apreciadores incondicionais.

    O queijo

    Comecemos pelos queijos lembrando que só em França as suas variedades são 246, tendo De Gaulle referido a este título, como ser possível governar um país com tamanha variedade de queijos…  

    Portugal não fica atras e possui queijos deliciosos para além da sagrada trilogia Serpa, Serra e Azeitão, relembrando os de Niza, Castelo Branco, Beira Baixa, entre outros.

    É natural que onde haja pastorícia existam queijos de vaca, cabra ou ovelha. No fundo o queijo permite ao homem trabalhando o leite, alimentar-se com produtos lácteos nas alturas do ano em que os animais já os não dão. Note-se, a este título, que os animais apenas dão leite quando alimentam as suas crias.

    Os queijos podem ser apreciados em quase todos os seus estados, sejam desde o fresco, à meia cura ao curado, sendo que todos têm os seus defensores e apreciadores, sem esquecer os seus subprodutos, o almece e o requeijão.

    O vinho

    A lógica do vinho será semelhante, transformar as uvas para guardar o seu sumo fermentado, neste particular acrescentada a deificação do vinho, desde cedo tida como a bebida dos Deuses, Baco, é disso testemunha.

    Tal como nos queijos a sua grande diversidade é motivada pelas uvas que lhes dão vida, aos recipientes onde se guardam a madeira e as ânforas outrora seladas com resina, marcam-nos de forma indelével convidando o palato humano a tomar partido e a ditar as suas preferências, despertando paixões.

    Na verdade os vinhos são variadíssimos, desde os brancos, aos tintos, espumantes, rosés, e ultimamente já se fala de vinhos sem álcool, já vi vinho azul – como o sangue?- e até pasme-se já adquiri uma garrafa de vinho invisível (vinho branco obtido a partir de uvas tintas)

    A Paixão

    Vinhos e queijos despertam paixões arrebatadas dos seus apreciadores. Reflectindo chego sempre à mesma conclusão de que o povo – afinal todos nós – é guloso, e desde tempos imemoriais aperfeiçoou os produtos ao seu palato (ou o palato aos produtos) tornando-os sempre e ainda mais apetecíveis, deliciosos e com a sua sabedoria os colocou e mantém no seu dia-a-dia alimentar…

    Ambos – queijos e vinhos – nados do engenho humano por necessidades de alimentação, rapidamente despertaram as preferências dos seus consumidores, sejam, os que por da sua zona de produção só podem afirmar que os nossos – queijos ou vinhos – são os melhores. Outros porém, de paladar esclarecido e refinado embora de outras paragens tomam os seus partidos pelos ditos de determinada região ou regiões como os de sua eleição.

    O casamento

    Ao contrário dos mais comuns referidos casamentos dos quais se diz prudentemente que são sempre uma carta fechada, esta união entre queijos e vinhos vem desde sempre abençoada, e, talvez por isso, abraçada sem reservas por todos.

    Podemos tentar encontrar mil e uma justificações para esta aceitação deste casamento, mas talvez a única válida seja a mais simples: é pura e simplesmente delicioso apreciar um belo queijo com um bom vinho na boca e salutar companhia de um belo naco de pão.

    Claro que para isso contribuem de forma determinante os taninos do vinho que se harmonizam com a matéria gorda dos queijos, mas em boa verdade alguém se preocupa com isso no momento em que à mesa os casa e aprecia? Nem um. Sim, o que nos motiva é o prazer que daí retiramos e o enorme gosto que temos em fazê-lo.

    Senão vejamos, temos alguma fome, não muita, apetece-nos algo guloso, rápido e reconfortante, eis-nos de volta do queijo com um copo de vinho na mão…

    Que boa refeição, gulosa, copiosa até, venha de lá esse queijo para acabar o vinho que já falamos de sobremesas. Parece que neste domínio, é apenas necessário um pretexto para fazer o gosto ao dedo, e porque não, um jantarinho só de queijos e vinho…?

    Valha-nos o gosto que temos e o prazer que daí retiramos a mentalmente anteciparmos aquele queijo de meia cura com aquele belo vinho tinto tão das nossas preferências, e, mais tarde fazendo a prova dos nove com o pão como companhia, regalar-nos literalmente abandonando-nos a este nosso pequeno luxo de beber um bom vinho tinto com um bom queijo de que tanto gostamos.

  • Curiosidades históricas sobre o vinho do Porto

    A 12 de Maio de 1986 celebraram-se no Castelo de Windsor os 600 anos do Tratado de Windsor, a mais antiga e duradoura Aliança entre dois Estados. Na presença de Sua Majestade, Isabel II de Inglaterra e do Presidente da República Portuguesa, Mário Soares, foi celebrada missa na capela de S. Jorge recordando o dia em que Ricardo II de Inglaterra e D.João I de Portugal celebraram esse Tratado. Terminada a missa, retiraram-se e todos foram brindar comum cálice de Porto à saúde dos Chefes de Estado.

    Portugal e Inglaterra, ambos virados para o mar encontram um no outro o parceiro ideal para desenvolver o comércio mútuo. A Inglaterra sempre ciosa do seu poderio e independência busca alternativas à França e Espanha enquanto parceiros comerciais estáveis, Portugal tenta passar ao lado do único vizinho ao qual foi arrancado, a Espanha, e ir encontrar amizades fiáveis para os bons e maus tempos… Grande consumidor de bacalhau e produtor de vinhos desde sempre, encontrou em Inglaterra o parceiro certo para as trocas comerciais, adquirindo a esta última o bacalhau que pescava nas suas águas em troca de vinhos tintos dos quais Inglaterra tanto necessitava.  Desta base de troca de bacalhau por vinho, viria mais tarde o vinho do Porto a desempenhar um importante papel.

    O vinho do Porto, apesar de se chamar do Porto nada, ou quase, tem a ver com esta cidade à parte de ser exportado através da sua barra, o que lhe valeu o seu nome de baptismo. Na verdade, a sua zona de produção deste vinho sempre foi o Douro, uma região distante, montanhosa e agreste, obrigatoriamente armazenado em Vila Nova de Gaia para onde era transportado de barco e daí exportado para o Mundo, repito, através da barra do Porto.

    Os primeiros vinhos que Inglaterra encontrou em Portugal seriam os do Minho, que se caracterizam por ser de grau alcoólico baixo, logo instáveis, e acídulos pouco apreciados no país de destino, porém necessários, estes vinhos foram baptizados de Red Portugal. Em 1689 estala a guerra entre a França e a Inglaterra o que tem como efeito o terminar das compras de vinhos franceses por parte de Inglaterra e a busca de todo o red Portugal que pudessem encontrar coma consequente aproximação de Portugal.

    Em 1703 a celebração do tratado de Methuen estabeleceu um estatuto privilegiado para Portugal como fonte de abastecimento de vinhos para Ingleses e Holandeses o que de alguma forma não só reconheceu a situação que já existia de facto, como a sublinhava para futuro dando-lhe letra de tratado.

    Vinho do Porto apenas pode ser produzido na Região do Douro, a primeira do Mundo a ser Demarcada no ano de 1756 , a mando do Marquês do Pombal ministro de El rei D. José I, que , para o efeito, se socorreu dos serviços dum filho da terra, Frei João Mansilha nascido em Santa Marta de Penaguião, professou na Ordem dos Dominicanos. Não deixa de ser curioso que o poderoso Ministro d´El Rei, tendo expulsado do país os Jesuítas, se socorra dum frade para esta enorme empresa, a verdade é que Frei João Mansilha se tornou igualmente seu confessor. Para o efeito foi criada a Real Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro em que frei João Mansilha detinha poder absoluto apenas ultrapassado unicamente pelo próprio Marquês.

    A Companhia, como era então conhecida, imediatamente demarcou geograficamente a Região na qual podia ser produzido vinho do Porto, tendo colocado para o efeito enormes postes de granito, fez ainda o levantamento das suas propriedades e identificou as que apenas podiam produzir vinhos tintos e as que podiam produzir vinhos do Porto, sendo que estas últimas eram que melhores condições tinham para o fazer.

    Em 14 de Dezembro de 2001 a Unesco declara o Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade na categoria paisagem cultural.