Tempos atrás dediquei-me à missão de descobrir qual a melhor forma de servir os vinhos do porto tintos na sua categoria Ruby que se caracterizam por serem de cor retinta, frutados, com corpo e estrutura q.b. e com taninos redondos, tornando-os mundanos, fáceis de beber e, mais importante, de conjugar com a mesa.

Estes vinhos possivelmente pelas características que acabo de citar, foram responsáveis por parte significativa do comércio de vinhos do porto para Inglaterra, pois estes apreciavam vinhos do porto Ruby em grandes quantidades, nomeadamente nos “pubs” onde, por vezes, era consumido misturado com limão.

Conhecedor destes hábitos nos “pubs” ingleses experimentei e gostei, como gostei igualmente de, com gelo, lhe adicionar água tónica e uma folha de hortelã-pimenta. Confesso que fiz outras experiências neste domínio, todas ou a maior parte, coroadas de sucesso.

Pesava-me, porém na consciência o de alguma forma desvirtuar os vinhos do porto Ruby, pois pura e simplesmente adoro apreciá-los frescos como aperitivo enquanto saboreio um ou outro patê de ganso ou porco, batatas fritas ou até algum resto sugestivo do jantar de ontem que encontro a vaguear no frigorífico.

A família, essa, pura e simplesmente, adora consumir vinho do porto Ruby com as sobremesas, sirvo-o fresco, e os demais bebem-no surpreendentemente com mousse de chocolate, além de com pastelaria variada mais gulosa ou então com aquele doce ou tarte especial comprada para o efeito.

Em casa de amigos próximos que alegam ascendência longínqua de matriz inglesa digladiam-se por acompanhar bombons de chocolate com uma boa garrafa de vinho do porto Ruby, e segundo já pude constatar nem são especialmente exigentes quanto ao tipo de bombons com que o consomem, vão desde os elaborados com chocolate escuro, aos mais vulgares chocolates de leite. A este respeito, passeava distraidamente quando ao passar numa casa especializada em chocolates, lá vi uns “afrancesados” “chocolat au Porto”.

Como vê as alternativas para se servir vinho do porto ruby são além de múltiplas, fáceis de imaginar e abertas à experimentação e ao gosto de cada um. Por falar nisso, aqui há tempos anunciado o jantar “coq au vin”, pedi à minha mulher para, em vez de utilizar o vinho tinto habitual na confecção da receita, adicionar vinho do porto ruby, na mesma proporção. Ainda longe da hora de jantar já o perfume invadia a casa perante a curiosidade geral. À mesa foi uma festa, dividiu-se irmãmente o vinho do porto Ruby que tinha sobejado, e jantou-se principescamente “coq au vin de porto Ruby”.

Como se vê nada mais fácil do que encontrar formas de servir “un vin de porto rouge”, bastando para tal dedicar algum do seu tempo a encontrá-las, aconselho a que comece com as clássicas e as vá diversificando à medida que o seu conhecimento e arrojo se vão instalando.

Aconselho ainda, naturalmente, que estes vinhos do porto Ruby sejam presença regular na sua cave não só para que com eles se familiarize, descobrindo-os e dentro destas quais as mais ao seu gosto, mas igualmente por outro motivo ponderoso, embora egoísta, imagine que lhe apetece um determinado vinho do porto Ruby e não o tem na sua cave: desgraça!